As consequências de uma separação



Quando eu era apenas uma menina com seus sete anos de pura inocência, vivi a experiência da separação dos meus pais. O dia em que tudo, aparentemente mudou a minha vida aparece como flashes enevoados em minha mente; minha mãe completamente fora de si, quebrando tudo em casa, e em seguida a gente deixando ela no hospital internada por ingestão de comprimidos a níveis extremos. 

Logo depois, lembro de estar com meus primos por muito tempo na casa da minha tia, e em seguida morando com meus avós... O tempo soa muito relativo como um piscar de olhos. E eu cresci ao lado de pessoas que não tinham muito do que era paupável para oferecer, mas faltava espaço para tanto carinho. 

Eu me lembro de mentir para os meus amigos da escola particular onde estudava (pois meu pai pagava a mensalidade, mas eu não tinha aqueles cadernos coloridos, e nem os tênis de marca comprados em Orlando como todos os outros da minha classe ) que eu morava em uma casa enorme e cheia de empregados, que minha mãe era médica e meu pai alguém importante do governo. Que eu tinha irmãos (naquela época ainda não), e que eles eram legais, ou quase, comigo... Me lembro de viagens que não fiz, amigos que não queriam brincar comigo, pois eu “parecia” pobre, me lembro de presentes que tinha apenas na imaginação. Me lembro de querer ser normal...

De certa forma eu sentia raiva de tudo, pois parecia que eu não tinha nada, alguma coisa de muito errado eu deveria ter feito para merecer um vazio desmedido no meu peito. 

“Ela tinha os melhores pais do mundo, os avós, mas mesmo assim, faltava um pedaço latente nas profundezas da alma daquela garotinha.”

Quando decidi perdoar meu marido e lutar pela minha família, eu decidi abraçar aquela menina... aquela menina há tanto tempo privada dela mesma, longe do seu lugar no mundo. Eu decidi aceitar os motivos dos meus pais e suas escolhas. Eu decidi compreender que todos nós fazemos o melhor que pudemos por aqueles que amamos, mesmo que isso pareça errado pra alguém. Eu decidi quebrar o ciclo do medo, da falta, da incerteza, da dúvida, da mágoa, da história que se repetia, pois normal é se divorciar quando tudo começa a dar errado... né?! 

Eu decidi ser a mãe que eu queria ter para as minhas filhas, a esposa que eu gostaria que minha mãe tivesse sido para o meu pai, e por saber que nosso relacionamento com as pessoas da nossa primeira infância influência todo o resto de nossa existência, eu decidir me perdoar.

E então eu entendi o plano de Deus... O casamento não aprisiona, ele liberta, nos faz livres para sermos felizes, felizes com o propósito de Deus; que a família seja uma benção em seu lar, que os filhos, cuja os pais esbanjam amor e atenção, presença e colo cresçam em um ambiente seguro e consequentemente sejam seguros de si, que eles sejam exemplos para uma sociedade que está carente, uma sociedade vazia, como o coração da menina que eu conheci há mais de trinta anos... Que o casamento promova um lar sem sombras, e que ele represente um pedacinho do céu aqui na terra. 

Porque eu acredito que o casamento, é antes de mais nada, processo de cura.

Com amor

@nataliapiassentini




Comentários

Postagens mais visitadas